terça-feira, 15 de agosto de 2017

Alento

Me falta
O descanso da tarde
A rede e a grade
A varanda
A brisa
A maresia
A inocência perdida

Me dói
As palavras sentidas
Soltas
Expostas
Sentidos opostos
Impõem-se em voz
um grito!
Tão alto

Calado
na tarde
se vai...


Minuta

O tempo é essa coisa
Que já não passa da mesma forma
Ele passa e já nem me olha
E eu, mal o percebo
Há algumas horas, já não o vejo

Reina uma paz em tudo
E se há lampejos
Bastam como entremeios
Que se suspendem em meu peito

Volto a respirar
Como se não antes não fosse ar

Tudo permanece
Tempo não acresce
Já me acostumei com a vida
Jamais com a rotina

Assim eu vejo o tempo
Em raros e ralos momentos
Não me atormenta
Só recomenda
E me relembra
Do que foi, do que é
Do que há.

Sobre o estranho que interfere, o mal e nossa ansiedade: a criança queria um Doritos

Uma criança faz birra.
Seu pai não cede.
Um estranho interfere
Vem, dá ao infante o que tanto pede.
O choro para.
Mas tal procedência
não sucede.

Como pequenos,
Em nossos tormentos
Choramos chegando até a esbravejar
O estranho nos fornece
Tão simples, fácil
e, aparentemente, amável
O que estamos a ansiar

Porém o Pai
mui sabe a lição
que nos quer dar

Mais valeria o aprendizado a longo prazo
Do que o desejo saciado por quem não está, de fato, a nos cuidar

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Interfalo



Se nos silêncios
Do intervalo
Em que você me vê
E eu te falo
E que enquanto dizes
Eu me calo
Existe um átomo abstrato
Que não só une, mas completa
É a perplexidade
De se estar à vontade
Em suas palavras e em seus olhares 


sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Paralelo

Às vezes um tombo salva a gente
Às vezes um erro nos torna descrentes
Nem sempre o ruim é o pior
E talvez o primeiro não é o melhor

Duvide do mundo
Desconfie dos sonhos
Refaça seus planos

Quem te fez? Quem te é?
Quem vive aí dentro?
Quão livre te tornou a sociedade?
E o conhecimento?
E sua história?

Será que não poderia ser diferente?

Escape
Explore o erro
O tombo
O que te trouxe o sofrimento
Não fuja, reaja
Repense
Comece tudo, de novo
O novo
E diferente



segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Porta-retrato

Peguei às mãos
Um porta-retrato antigo
Com várias fotos
Um tanto antigas

Guardado em um canto de uma gaveta
De um canto, retirei-lhe o pó
O resto deixei estar
Cabia-lhe bem
Ali deixar sobre ele,
Marcas de um tempo remoto
Distante...

Eu sorri
Sorri muito!
Fotos antes tão coloridas
Hoje me aparecem em tom sépia

Sem nostalgia
Amareladas
Parecem tão passado
E sabendo o presente
Tão mais colorido
Só me restou sorrir
Muito

O retrato de hoje
Já ultrapassa o feliz!




segunda-feira, 30 de novembro de 2015

O melhor poema

Desculpe a ausência
De palavras dispostas no papel
É que elas saíram, voaram
Tomaram rumo,
Voltaram e viraram
Tornaram-se vida
Inacreditável?
Indescritível
Assim me apareceu o melhor poema
Parei de escrever
Pude ver
E a letra não era minha...
Agora não se lê o poema
Ele existe
Ele é vivo
Agora, se vê poema
E mais do que palavras que acalentem o coração
É companhia
Mais que um passatempo à apreciação
A rima se fez harmonia
E a métrica, na mais perfeita sincronia
Quem diria, que um poema assim
Viria e viveria.
O melhor poema é esse
Um sonho estonteante à minha frente
Palavras não pronunciadas
O melhor poema não é meu
Mas Deus me deu.