Neste exato momento, vos escrevo fazendo uma das coisas que mais amo
fazer - e antes que os que me conhecem pensem que seja estar viajando, o
que não deixa de ser verdade, já adianto que não me refiro a isso e
explico - estou olhando o céu. Um céu limpo, estrelado, lindo.
Há
exatamente 1 mês atrás eu me encontrava em uma situação idêntica. Há
exatamente 1 mês, eu olhava o céu, um céu que está marcado na minha
mente e coração para sempre. O céu dos meus sonhos. Era minha última
noite em Tromso, na Noruega, onde por 10 noites presenciei um dos
fenômenos mais lindos da natureza, um fenômeno que era um dos meus
maiores sonhos.
Mas, ao mesmo tempo, há um mês, eu me encontrava
em uma situação ironicamente contrária a de hoje. Ao invés de uma noite a
30°C, estava -20°C. Ao invés de cercada por seca, sertão e terras
áridas, era muita neve, floresta, mar e águas por todo lado. Ao invés do
hemisfério sul, era hemisfério norte. Ao invés de trabalho, era
férias...
Hoje reaprendo uma lição que aprendi há exatamente um
mês atrás e que, na verdade, Deus tem me lembrado sempre que eu volto
meus olhos pro céu - Ele é sim muito Grande, age sobrenaturalmente nas
mais profundas causas e nos mais complexos problemas que temos, mas Ele
age naturalmente nas pequenas coisas, e está presente na simplicidade,
na felicidade do ordinário, do natural, da natureza, da humanidade. Ele
me ensina a perceber que graça mesmo não é só poder comer em um bom
restaurante, usar uma boa roupa, ter um bom trabalho. É poder
experimentar todo dia a comida da mãe, sentar em volta da mesa com a
família, com bons amigos, é poder não morrer de frio, poder não
esmorecer de calor, é ser util e ter habilidade de falar, escrever, ver,
tocar, ouvir, conviver... Não é a balada do sábado, a festinha de
quinta, o barzinho de qualquer dia, é ter os amigos pra compartilhar
todos momentos. Não é o local onde está, mas como você está. Não é a
viagem dos sonhos, é a volta para casa.
Para quem não lembra, há
um mês eu fui marcada como a pessoa mais competente em ser loser e
conseguir ser assaltada - e ter a mala roubada - num dos paises mais
seguros do mundo! Agora, um mês depois continuo desastrada,
desengonçada, enfim, sortuda pra caramba... A diferença está nos
olhos, no olhar, no compreender que não interessa quem você é, mas sim
Quem está moldando como você é...
Deus é Grande, eu sou pequena.
Ele vai a frente, eu vou atrás - ainda que tropeçando, às vezes bem
distraída - sigo o caminho, olho pro alto e contemplo o que me completa.
E
quando me perguntam por que eu amo olhar o céu, digo uma das poucas
constâncias da minha vida. Amo olhar o céu, as estrelas e a lua pelas
lembranças que me trazem esperança, não apenas as de um mês atrás, mas
de toda minha vida, desde quando sentava no quintal com meu irmão mais
velho, os inúmeros acampamentos, fogueiras...
Volto meus olhos
para o céu pela sensação que me dá: a realidade da minha pequenez diante
da grandeza de Deus, fico assim maravilhada e preenchida pela
simplicidade da Sua paz submentida e submissa sob a imensidão do Seu
poder.
E, por fim, só sei o quão bom é simplesmente ter vida,
estar viva, e se sentir viva em abundância (que só a percepção da graça
emite no nosso coração).
Boa, linda e magnífica noite!
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