segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Splash!



Acho tremendo desperdício que se limitem as cores com traços e mais traços dos desenhos. 

Como um corpo achado morto,  perde-se toda uma vida e verdadeira liberdade. 
Minam-se seus movimentos, suas possibilidades... 
O risco insiste em contornar e limitar o pingo da tinta, 
E, em seguida reproduz-se como forma, 
Passa a ser molde, imitando o que antes fora natural e aleatório e tão belo em sua pureza...





Me sinto como as cores, sempre alternada

Por infinitos tons de possibilidade formada. 
Leve como um quadro de paisagem, livre como seu estado líquido... 
Inesperado...  Inequacionável... 
Mas as vezes me vem esse meu corpo, consome-me a mente. 
Todo esse meu despojo torna-se eminente, 
Quero libertar-me do contexto, da expectativa, do peso, da linha reta, do papel, dessa esfera.

Perco-me ao céu, a sua imensidão. 

Pinto-me via láctea e pronto, lá, passo a voar, flutuar... 
Quão momento atemporal! 
Experimento eternidade em essência tão real... 
E quando me dobram as horas, faço-me a gota da chuva,
Passo do azul do céu ao salto livre em água para o mar. 
Tão esférico, tão profundo, quente, frio, amplo, ondulado, ilimitado e poderoso. 
Que aquarela poderia conter isso?

 Mas logo passa um barco, um navio, 
Que me faz mergulhar, oceano a dentro, adentro, 
Mas me atropela um submarino... 
Como se a insistente urbanidade me perseguisse, 
com todos seus metais, 
seus concretos e suas lajotas, 
com seus vidros, latas, caixotes e pincéis,  
caçando de mim a espontaneidade... 
Para sua egoísta garantia de que eu não desbote suas ciladas, 
Que eu não estrague os seus desenhos de riscos e tracejos. 
Em três dimensões, querem me encaixotar, 
Me fazer ser tinta em tons friamente calculados, 
percentualmente mensurada em magenta, ciano, amarelo e preto... 
Sem cabimento, 
Esquecem que três vértices que fazem um plano perfeito. 
E talvez esse seja [meu] plano: desequilibrar.

Equilibrista, eu sigo sendo também a cor. 

Se é isso que esperam,  disso me despeço, 
me tropeço, aceito minhas pernas trêmulas e bambas como assim são 
E foram feitas fracas de ser, 
Sem medo de depender, 
Esparramo toda tinta pelo ar, pelo chão, na parede, 
Na roupa, sobre o branco  e o coração... 
E então gargalho, na maior sinceridade, 
vibro com intensidade, canto a música que der vontade, 
Escorrego no verde que me faz de vermelho o sangue 
E que me ensina a recolorir, quantas vezes precisar...

Que cada um se perca na infinita tonalidade de ser o que há pra se viver! 

Splash pra você!


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