terça-feira, 25 de setembro de 2012

Um despertar...da cegueira

Hoje li o caso de Cristian Fernandez (leia mais). E, indo ao médico, pensei no quanto eu sou e fui protegida em toda a minha história de vida. É tão fácil para mim entender o amor e a proteção de Deus para comigo, porque eu experimentei. Mas o que dizer para alguém que é filho de uma violência, de um 'acaso' com descaso? Como acreditar em um Deus amoroso quando toda a sua vida foi cercada por abusos, mortes, drogas, rejeição?

Então, penso: por que eu acredito? Acredito por que é fácil para mim? Por que é óbvio para mim? Eu acreditaria e compreenderia esse amor em outras condições? Como falar desse amor? Como reconhecer o amor de Deus quando nunca vivi experiências dolorosas, dessas que calejam? E, então, me veio a pergunta: "Quem sou eu para falar a alguém com uma história de vida marcada pela dor que Deus o ama?".

É tão simples para mim enxergar isso, mas pode ser invisível para pessoas com histórias semelhantes a desse menino. E quantas vezes nos permitimos a falar sem empatia alguma e sem pensar na realidade de vida dessas pessoas, "ei, você existe porque Deus te deu vida. Deus assim permitiu que você vivesse.Você é obra de Suas mãos" Mas que VIDA é essa? Por que Ele fez isso comigo? "Ele ama você, Ele estava com você em cada momento e Ele sofreu junto com você e por você.". O quê? Como eu poderia falar algo assim? Troque as posições: você acreditaria em alguém que lhe falasse isso?

Mas então eu vi que realmente não posso falar "Eu te entendo. Deus te ama" simploriamente. Primeiramente, porque eu não entendo, eu não sei o que é passar por experiências cruéis como essas. E, em segundo lugar, porque eu não posso falar de um Deus que ama se eu mesmo não compreendo a profundidade desse amor e não reconheço o cuidado e a soberania Dele na minha vida.

Sabe por que é fácil para nós falarmos coisas como "Deus te ama", "Ele cuida de você" etc? Porque não refletimos sobre a profundidade que essas frases tem. Você tem noção do quanto Deus derrama de graça e misericórdia sobre a sua vida? Eu definitivamente não, mas hoje cheguei a perceber que deve ser mais imenso que o mar e mais extenso que o céu. E, ainda nessa perspectiva, não é imensamente prático, perfeito e inexplicável o sacrifício de Jesus ao olharmos para vidas assim?! Eu posso não saber o que algumas pessoas passam, mas Cristo sabe. Ele sabe.... Ele sofreu como homem, Ele entende nossas dores, nossas aflições... E, ao contrário do que o inimigo quer que pensemos, Ele não está neutro a isso. Ele chora conosco, Ele sofre e sofreu conosco, tomou em si nossas dores... Então, é dificil falar, mas é preciso. Deus ama cada vida e se compadece de cada uma, porque Ele entende - e muito bem - quem somos e o que vivemos.

  
Lembro-me do livro "Ensaio sobre a cegueira". Não deveria ser assim? Como você reagiria? Como um guia - já que sua visão não foi tirada para dela sentir falta - ou um insensível ao outro?

Às vezes, eu nem me lembro o que devo agradecer quando oro - a não ser aquela listinha básica decorada: família, saúde, trabalho, sustento, provisão... Mas meu coração parece muitas vezes afastado, impermeável a essa noção da graça e do amor de Deus em sua extensão, tamanho, alcance e profundidade! Como me manter grata, humilhada e com o coração despido perante ao Senhor para enxergar Suas obras, Sua misericórdia, Sua graça em cada cuidado diário que Ele tem na minha vida?

E, o mais importante pensamento, como eu posso e devo estender essa proteção, esse cuidado, esse amor, essa graça e essa misericórdia àqueles que precisam, que não o conhecem e que não possuem essa compreensão?

Que eu aprenda a amar a Deus, pois Ele me amou primeiro, mesmo eu não merecendo. E que eu aprenda a estender tudo o que Ele me dá ao meu próximo. Deus me ajude.