terça-feira, 31 de março de 2015

Meu relapso de vaidade

O barulho da água do chuveiro no ouvido.
A montanha de roupas coloridas.
A música composta em outra língua no silêncio.
A crença de que a lua, de algum modo, me influencia.
Um e-mail pra se ler no futuro.
A contagem das calorias.
A pilha de livros a beira da cama.
Os equipamentos acumulados.
As malas vazias.

O cabelo que cai. 
E o fio branco que aparece. 
O par de sapato sem par. 
Essas horas vazias. 
Tudo indica que o tempo passa e tudo o que tenho é razão de alegria.

Mas em mim algo triste vai,
a mim algo escuro fica: 
a vaidade de querer mais, 
mesmo sabendo que nem a vida merecia.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Sorriso de olhos cerrados


Meu sorriso era meio entreaberto
Meio discreto, meio sincero
Entreolhava a sensação
Como quem diz sem tempo
"Entre, olhe, percepção!
Esse momento não volta não..."

Mas riso bom é riso cerrado
Sorrisos desses de se fecharem os olhos

Imprescindíveis, 
De essência inevitável, sincera, inocente, humilde e até um pouco errada...
Contendo em si toda sensação!

quarta-feira, 18 de março de 2015

Preocupação da minha memória

DO INÍCIO
Possível recordar?
Talvez as mais velhas histórias definam
Refinam e reafirmam
Em competição com o desapego natural dos acontecimentos
Em cada um
Um recomeço? Não.
Vários!
Depois do abraço
Nas despedidas
Todo e cada dia
Alegria
Em meio à trilha,
Não é possível reiniciar!
Cada passo é start de momento
Depois do feito
Do efeito, da confusão
Depois da lágrima no ombro irmão
Curando a falha, ferida aberta
Do coração
Recomeçamos, cada respiro
Cada e qualquer evento
Era bom te ter irmão
Era e é
Não terá sido
Nunca será
Em vão
Quem dera a Era à nossa geração
Se era Eva e Adão ou explosão
Só certo sou
Nada começa em vão

DA EUFORIA
Gritos repletos
De peito cheio
Com peito aberto
Muita Luz
E escuridão
O mundo é nosso
O riso é puro
A vida é bela
Após votos, só comemoração
Se é o que resta, então é festa
Nisso somos bão!
Entorpecidos, lembro os sorrisos
Relembro a farra
Falha à memória
Fica o que importa no coração
Sei que ao lado tinha você, irmão
Em todos os pecados - se assim chamam
Em tantos desastres, corria e ria
Quando tricoteiei
Aquele céu, os doces 
Tão doces
A roda, o violão
As mesmas músicas
O suspensório, o lustre, os brindes
Sinceros, veros
E a companhia
Que nos flutua
Todo o resto some
O mundo gira lá longe
A noite sempre se alonga
Até virar manhã
Satisfeitos de termos sido reis
Com tanto e tão pouco em nossas mãos
Divagação
Riso e sorrisos
Juventude em cena, filme real
O mergulho e os caldos
A implicância e a tolerância
As brincadeiras, o colo
O falar em vão
Lá, bebemos
Festamos
Caímos
Revemos
Revivemos
E temos agora
Saudade, então.

DO PAVOR
Qual o valor da vida?
Aprendemos naquele dia
Naquela noite
Paz em tormento
Na prática, a teoria
Alguns olhos se cerram enquanto outros esbugalham
Nos segundos que prosperam, ação inesperada
Atitude e paralisação
Acalmante e confusão
Juntos, terror
Completos, repletos de temor
Pela vida, amigo
Tua vida, irmão
Perco tudo, não você
O coração à boca
Em teu braço desmorono
Até então eu era feita torre
Só com você fraca me deixei ver
O que é riqueza?
No pavor descobrimos
Era te ter vivo, querido
Em conjunto, vimos
Sobrevivemos, além de verdadeiramente viver.

DA SIMPLICIDADE
É carne e pão
Pilhas de lata no chão
Ou culinária em teste
Isso ou aquilo que sempre repete
Algumas frases ficam
Outras deixo no porão
O que é felicidade?
Se é o caminho
Foi nossa trilha
E a alegria, qualquer acontecimento
Que distraía
A paz, a satisfação
O calor do Sol
Da corrida
Da fogueira                                  
Da manta
Do susto
Do medo
E de qualquer repreensão
Que não limita, é bem-vinda
E vê se qualquer dia
Me liga
Vamos marcar
E o tempo passa
E o tempo escassa
Antes era só estar junto
Na rua, na casa, na praça
Em aventura ou em um descanso bom 
Era estar perto
E somente isso
Nunca só
Acontecia

DO CHORO
Das vezes que o chão sumiu
Que o mundo apagou
E a fé perdi
“Pra quem eu ligo?”
Sempre você
A mente previa
O timbre era a notícia
E o silêncio, o coração
Você estava lá
Sempre esteve lá
Todas as vezes
Eu olho e lembro
Mal me enxergo
Sou cego
Vejo sua imagem e sossego
Traz sossego 
Na dor em que eu me perdia
Na força que se esvaía
No problema sem solução
Com esperança ou não
Você abria sua alma
Em koinonia
E nela eu também cabia
Com toneladas de tristezas
Desespero, soluços e emoção
Você viu, ouviu
A vida não se tornou fácil, agora não
Mas difícil, mais difícil
Sem perceber, impossível
Como agora incapaz duvido,
Se ainda te terei e também poderei estar por ti em prontidão? 

DA INCONSTÂNCIA
Sem cobrança
Com você sou quem sou
E te deixo ser
Puxo uma cadeira
Falo um fato passageiro
Qualquer palavra, qualquer entreter
Te ver é presença
Acompanhar melodia
Quem diria?
Não previa à mesa te ter
Tradição, costumes
O natural que construiu
Isso que nos faz ser o que somos
E ter o que só junto temos
Carregamos o que queremos
De um jeito ou de outro é leve
Meu peso ponho em sua balança
Eu me perco, e você dança
Um dia ou outro
Ou todos
Um horário ou toda hora
Pouco importa
É tarde, é cedo
Se eu contar, não seria segredo
Ora é, ora não é
Mas que seja
Assim, perceba
Que sendo ou não
Estando ou não
Correndo então
Posso dizer sem remedir
E sorrir do que um dia disse ou fiz
E você não me deixaria esquecer
Faz parte do jogo, do dado
Tirei o azar, acertei na sorte
Com vida, com morte
Em altos e baixos
Você me foi suporte
E eu te suportei
Pode ser inconstante
Aceitamos um ao outro a todo e qualquer instante

DOS MOMENTOS
Aqueles milésimos
As horas
Incansáveis
Distração
Bons papos
A vírgula no acréscimo
O vácuo pairando em tempo, a tempo, no tempo, há tempo(s)
Ou naquele vento
Naquele ângulo em que te miro
Aquele instante
O seu semblante
As suas falas
Suas manias
Eu te conheço
Tão previsível
Sou também assim visível 
Não nego não
Eu sei
As coisas compartilhadas
Os vidros, as pratas
Fumaça e enredo
Lorota e segredo
O som, o medo e o dom
A fé, a pisada, os toques, os tiques
A falha marcada
O perdão
E a mesa
O banco, a cadeira
A conversa ligeira
Não, nada disso passa
A hora retarda
O que trago à peneira
A preocupação da minha memória
Residente das entranhas
Parasita paralisante
Intrínseco aos verbetes
Que anunciam tais lembranças
Está o já interminante
De não se ter e fazer novas memórias
O que temos, era
Vivemos pelo que já vivemos 
E somos, porque um dia fomos.


Aos meus melhores amigos, as melhores lembranças, sempre.