Eu vou pra lá
É, eu vou
Lá posso cantar fora do tom
Assoviar, deixar-me ouvir
Posso subir na árvore,
Olhar a paisagem
Rir de mim
Chorar de rir sozinha
Assim... de si – [h]um... bem só -
As aves se farão vizinhas
Lá eu vou, eu voo, lá vou eu
Pular da mais alta rocha no mais profundo mar
Que belas ondas!
Em tons azuis infinitos
O céu eu fito,
As aves pairam
E eu navego
O sol me queima a pele
E eu sinto todo seu calor só pra mim...em mim...
Lá que mora minha coragem
Lá que pouco me importam as imagens
Para que fotografar? Lá é o Eterno
Onde eu posso pensar o que eu quero
Sem nada mais querer
Posso imaginar tudo que gosto
É tão belo o mundo sob esses olhos
Tornar do escuro às incontáveis estrelas
Do sal do mar, fazer temperar as mais apetitosas receitas
Chegar, cantar, se fazer canção
Se unir à imensidão
Ser a própria menção do que há ali
Ali, há tudo que comporta um coração
- Acha-me a porta desse sonho! Vem logo, viver sem ver é vão!
-
Ah, e lá, ao estar à beira mar
De dia, faço tudo sem errar
Em calmaria, faço tranças à maresia
De noite, vem a doce brisa me beijar
A areia ainda a me calçar, me samba os pés
À meia lua, armo uma fogueira, relembro histórias
verdadeiras
De quão bom foi amar!
E, sem saudades, eu os vejo – sim, te lembro! –
Fizeram parte do ser de agora, e esse passado também está lá
Nada se reparte, tudo coexiste
O tempo só não permite, mágoa ou dor alguma guardar.
E a qualquer hora, pego no sono
Sim, lá também descanso, me encanto
Vivo, voo alto, tanto no real quanto em sonhos
Tudo é sonho - de doce de leite, creme e goiabada -
Cheiro de padaria no fim da tarde
Todo dia é aniversário, - já que não se olha o calendário –
É cadeira de balanço
Balanço de cadeira
É vestido confortável
Sempre é hora de brincadeira!
Corro sem me cansar
Descanso só pra olhar, girar
E giro, giro, sem parar
E em meio a tantas flores,
Viram quadro todas cores
Desses de aquarela, tinta óleo
Pano e tela
É Arte por todo canto
E sem engano, ou filosofia a defender
Pode perder seu tempo em discorrer
Não vai conseguir descrever
Tanto encanto
Quanta magia, só folia!
Tem água doce, onde eu vou, lá
Matar a sede, sentir o verde
Nadar com peixes, tocar em pedras lisas
E sábias, como um provérbio chinês
Ali, no mormaço, desvendo mistérios
Fecho os olhos, ouço o Eco
Sinto sua voz, ouço seu abraço me cercar com a mata
Me envolve com seu frescor, nítido como a gota do orvalho
Que se faz pequena, mas se enxerga inteira
E aí, me esqueço do que penso
E penso no que – sempre – esqueço
Dali emendo uma dança
De manhã, borboletas
A tarde, na rede
A noite, vagalumes
Madrugada, pego estrada
Trilha pro amanhecer
Ver da alta montanha o Sol nascer
Me encontrar com Fernando
Para convencer Álvaro a ver como Alberto
Deixar-se só ver
As coisas como são
Não nomeá-las em vão
Cair, Caeiro,
Abrindo o coração não só pro amor
Mas para a paz que a Natureza traz
Repartir os rebanhos
Guardar só sonhos
Pra compartir
Partindo
Pro que só tem lá
Lá
Eu vou lá
Mas vou pra ficar
Quando não estiver mais que aqui morar
Viver toda fantasia
Oceano de pensamentos
Mar de encantamentos
Mar de encantamentos
Céu de infinitude
Sol de eternidade
Ventos a voar
Pés a navegar
Paisagens infinitas
Músicas, luar
Vista bonita
É, lá que mora a verdadeira Companhia
Músicas, luar
Vista bonita
É, lá que mora a verdadeira Companhia
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