Sobre voar

Para atingir o céu
Não pode ser que nem Babel
Para ir lá longe
Onde há mais vista - quase infinita -
Não invista
Em comprar balão
Rodar o mundo de avião
Que elevador algum vai alcançar
Escada alguma vai chegar

Pára de tentar atingir seu céu
Qual é o ápice?
Qual seu maior sonho?
O que fará se sentir pronto
Para abaixo da própria lápide restar?

Pra quê lhe serve a vida?
Por que corres?
Pra quê vives?
Qual é o seu céu?

A vida é frágil, é breve
Qual o legado que recebes
E qual legado hás de deixar?

Em que se faz sua missão?
Em que se apóia seu coração?

Repare o céu e toda sua extensão
Somos pequenos
E, ainda, nascidos com defeitos

E, de novo, te pergunto,
Qual é seu céu?
Onde está sua imensidão?

Meu conselho:
Solte-se
Para se encontrar
Perca-se
Para voar
Negue-se
Para pairar
- Mas solte-se, perca-se, negue-se ao Sol e pro céu -
E veja que ele - Ele -
É mais que um lugar
É a razão, é sua causa
É sua paixão, motivação
Que pode se fazer vã,
Ser de vaidade vilã
Ou pode se tornar mar
E aí, meu caro, é só velejar!
Se deleitar!

Venha, veja e descanse
Do mundo todo lá embaixo
Venha e entre,
Do seu próprio jeito
A seu próprio mais apropriado tempo
Aqui não tem mau tempo
Deixe lá fora o que há de mal
Traga só risos, traga histórias
Boas memórias, bons livros
Ouça a música que está a tocar!

Sinta o aroma
Do bolo feito
Do pão no forno
Sinta a quentura
Do forno a lenha
E o tinido da chaleira

Sinta-se se livre
Pode abrir a geladeira
Pode pôr seus pés no banco
E se estirar na espreguiçadeira

Aqui não tem muita cadeira
É só sofá
E almofada
Com contos de fada
Para do seu cochilo
Vir a sonhar

Aqui, no barco
Não há relógio, não há sino
Vive-se o mistério
Mas sem medo
Vive-se o calor
Sem qualquer tormento
Vive-se a vida
Sem inquietação

O Sol vem conversar
A Lua nos inspirar
As estrelas a enfeitar
Nossas festas, com muito alento

Vai, vista-se
Perfume-se
Esqueça-se
Do que?
Agora que aqui está
Pouco se lembra,
Que queria chegar ao céu
Corria tanto sem voar
E agora voas sem correr
Sem se atinar
Queria tanto alcançar
Mas foi se negando que pôde vim ver,
Viver,
Sobrevoar!