terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Mundo invisível


"Pela fé entendemos que os mundos pela palavra de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente."
(Hebreus 11:3)
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Por que Deus não se fazia mais óbvio? Eu queria que ele realizasse um milagre bem orquestrado e televisionado, para que eu pudesse convidar meus amigos céticos para verem um ato de Deus que eles não teriam como negar. [...]

O problema, como eu o enxergava, era que os atos cristãos — a oração, o amor uns aos outros, o compartilhar da fé com outros, a adoração — não eram sobrenaturais o suficiente para convencer quem quer que fosse de que o cristianismo é verdadeiro. O que precisamos de fato, eu pensava, é de uma exposição gigante, mundial e tremenda do poder de Deus. O naturalismo despencaria das alturas. [...]
Não preciso de milagres para crer; Deus tem se revelado a mim de maneira amorosa. Só me sinto incomodado quando penso em meus amigos céticos. Se Deus realmente fizesse um milagre diante de seus olhos, eles creriam? Não sei. Ao contrário, convivo com atos cristãos simples, às vezes monótonos, de oração, compartilhamento, amor e serviço. Como eu bem sei de meus primeiros contatos com cristãos estranhos, esses atos não são suficientes para convencer um cético. Eles podem até ser habilmente reproduzidos como piada ou experimento sociológico.

Nunca consegui encontrar uma boa estratégia para convencer os céticos. Alguns vieram a crer, outros não. Alguns foram atraídos a Deus pelo amor de cristãos; outros correram para os braços dele quando seu mundo desabou. Muitos outros, no entanto, estão hoje bem longe de Deus.

Mesmo depois de tudo o que Deus fez por mim, ainda tenho dúvidas. Sempre vou acreditar que ele é real, mas muitas vezes minhas orações parecem superficiais, palavras sonolentas que batem nas paredes e não passam do teto. Outras vezes, quando ouço um cristão descrever uma experiência que teve com o Senhor, ela não soa tão diferente daquela que você poderia ouvir em um encontro de meditação transcendental ou em uma terapia de grupo. De vez em quando, ainda me é difícil crer — verdadeiramente crer — que existe outra porção do mundo lá fora. Nunca me encontro completamente livre do naturalismo, porque o único mundo que vejo todos os dias é o natural. COMO ME MANTER CRENTE NUM MUNDO INVISÍVEL?

Há um mundo evidente ao meu redor, composto de árvores, rochas, pessoas, carros e edifícios. Todo o mundo crê nesse. Mas há um mundo igualmente real de anjos e espíritos, Deus, céu e inferno. Se eu tão-somente pudesse ver esse outro mundo apenas uma vez, talvez isso esclarecesse todas minhas dúvidas. [...]




Todos nós que somos cristãos cremos no mundo invisível; nós simplesmente o esquecemos. Somos consumidos por nosso mundo de argumentações, relacionamentos, empregos e escola —e mesmo o mundo "religioso" da igreja e das reuniões de oração. Talvez, se Jesus estivesse em carne em nosso meio murmurando frases como "eu vi Satanás cair" sempre que Deus nos usasse, nós nos lembraríamos melhor.

O mundo em que vivemos não é um mundo ou uma coisa ou outra. As ações que tomo como cristão — oração, adoração, amor — não são exclusivamente naturais ou sobrenaturais. São ambas as coisas, funcionando ao mesmo tempo.

Como lembretes do mundo sobrenatural recebemos o Espírito de Deus, que habita permanentemente em nós. Recebemos os bons conselhos da Bíblia e de companheiros cristãos, que afirmam conosco que, sim, há outro mundo, e Deus está vivo e se importa conosco.

Além de todos estes lembretes especificamente cristãos, há no mundo muitos rumores de Deus que podem ser detectados por todos. Você quer ver uma expressão do poder de Deus? Levante cedo e assista ao nascer do Sol. [...]

Às vezes me lembro claramente do mundo invisível. Posso sentir sua existência tão fortemente que chega a parecer mais real que o mundo visível. O atributo da fé permite que eu creia — o atributo que a carta aos Hebreus define como "a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos" (Hb 11:1, NVI). Naqueles momentos (eu me lembro de como me senti depois de minha conversão) me pergunto como alguém poderia duvidar. Em outras ocasiões — na maioria das vezes quando estou cansado e irritado, e briguei com alguém — mal posso me lembrar do mundo invisível. Aqueles momentos, também, são sintomas da grande luta espiritual que ocorre por trás das cortinas, acompanhando todos os momentos de minha vida. [...]

"Não há campo neutro no universo", disse C. S. Lewis. "Cada polegada, cada milésimo de segundo, é reivindicado por Deus e reivindicado por Satanás." As vezes sou forte o suficiente para crer nisso por mim mesmo. Sinto-me como parte de uma batalha. Mas em outros momentos me esqueço, e devo ser impelido de volta a Deus, a sua Palavra, à dependência desesperada dele e de seus seguidores aqui na terra. Eles me lembram do mundo invisível e de meu papel nele. Satanás não abre mão de seu terreno com facilidade.
(Vendo o invisível - Desventuras da vida cristã / Philip Yancey)

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