sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Minha preguiça despojada

Deixo tudo pendente
Dente do siso
Botão da camisa
Ponta do lápis
Deveres na mente
Permanecem por fazer
E eu,
Sem o mínimo querer

Fica pendente
Visita a amigos
Que não avisto
E tão longe da vista
Persisto
Em deixar que fiquem

Pendentes
Livros a ler
Cartas a responder
Louça a lavar
Hobbies a aprender
Passagens a se comprar

Postergo
Não nego
Que o que me olha
Me cobra
Mas tudo isso que sobra
Não quero fazer

A vida é tão curta
Mas tão longa
Nesses minutos que eu vou levando
E arrastando
Tudo
E todos

Os concertos da roupa rasgada
Da peça da máquina
Da conversa inacabada
Do contato rompido

Não vai dar tempo
De fazer tudo
Então faço
Menos ainda


A pesquisa a se fazer
O curso a se tomar
Os sapatos a se calçar
Mas o que se quer é estar em paz
Com o que se sabe
Com o lugar onde se encontra
E com os pés descalços a dançar



Então penso no mar
Ele me vem
Sem eu ir a ele
Tão amplo
Tão verdadeiro
Mais que qualquer outro paradeiro
De vida que há

Se Universo pedisse
E a obrigação exigisse
Um sequer movimento
Juntaria energia só para uma coisa alcançar:

Levar-me pro mar
onde eu possa deixar
Pendente
No ar
Roupas a secar,
[enquanto estou no molhado]
Vento a soprar,
[enquanto me abrigo no azul profundo]
Sol a castigar
[E eu ali, protegida de todo o mundo...]

[Sem fronteiras
Sem limites
Abundância
Extravagância
Só beleza
Que riqueza!
Sem peso
Sem culpa
Sem pressa
Sendo só
Uma sou
Só mais uma
Ocorrência
A borbulhar
- que a corrente venha me buscar, pode me levar!]

E foi o que me ocorreu...
Enquanto corri - alcancei
Mas logo que entreguei - recebi,
A troca na qual pouco dei...
Mudou meu olhar
Meu ser
Meu ver,
Do lindo show verde
Trouxe-me à infinidade do azul:
A aurora pelo oceano
do frio pro calor
da neve pra areia
do exposto pro cercado
da mais alta montanha pro nível - equilibrado - do mar
Dizem ser o céu, Seu lar
Mas Seu sétimo dia não deve ser lá...

Meu sonho era as luzes avistar
Seu abraço foi o meu mergulhar


Eu fui para longe
E vieste bem perto
Tocar-me, envolto
Comecei a sentir e não mais só ver
Aproximação
De amor...
Superação da mais fértil imaginação
Foste muito mais
Além do que eu podia desejar...

É que o que vemos é vista
O que experimentamos é vida
Mas o que contamos é linguagem,
É discurso, é descrito
- às vezes, grito -
E já não é realidade
É interpretação

Não é por acaso
Que do nada
Faço pouco caso
Do que tenho que fazer...
É que só quero saber
Do que já está feito
E perceber que o que preciso
Eu já tenho

Vejo a janela
Esqueço o batente
Meu descanso me espera
E o que for vaidade
Que fique pendente!


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