sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Chuva-se



É essa chuva
que cai e não molha
que me molha sem cair
que me escorre sem estar aqui

Molha-me
Moa-me
Moa-se
Mói-me
Doa-se
Doa-me
Cai-te
Caia-me
Escorrega-te
Entregue-se
Entrega-te
Chuva-se
Chove-se
Em mim

Queria que viesse, e me veio
Queria que chovesse, e choveu
Mas não foi o bastante
A nuvem não se fez grande, gigante
E o meu desejo, permitiu-se extinguir

Mas ainda me sento à janela
Espero por ela e me perco a pensar nela
E no que ainda está porvir

Pode ser sol, pode ser chuva
Mas, se sol, que me aqueça
E, se chuva, que em tempestade se faça
Torrencial, espalhafatosa, barulhenta
Para não caber em mim dúvidas
De que havia de assim ser
Era momento pra chover

E, como quem dorme em belos leitos
De olhos cerrados, de ouvidos abertos
encontrando conforto e aconchego,
Inundo receios, meus medos - de si estão cheios, estão fartos -
Me achego
No que se ouve lá fora - um mundo tão distante -,
Acho Verdade quando me deito...

Se chove ou não
Se molha ou seca
Se vem ou se vai
Que os maus tempos me vão
E me venham os sonhos
Molhados
E assim me proponho
A me fazer de chuva
E que me ensope,
Que me cubra
Me encontre ao chão
Me ache em evasão
Me arraste
Me chova
Escolhas
de são.



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