quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Fogo e chuva



Brisa
Carron
Gaita
Chocalho
Coaxar de sapos
Lampião
Em roda, cantamos, sentamos, sentimos,
E agora, cá estamos
Ficamos, restamos.

A chuva se reparte:
Uma parte, para no toldo, umedecendo-nos em abraço os braços
A outra nos molha,
Seu gélido escorrer nos cai como frescor
Sobre todo o calor
Das vozes, das histórias, das aventuras

Os olhos se fecham de tanto sorrir
Sai mais chuva
De dentro
Conversas nos regam
Nos esperam na noite escura que nos circunda

À grama molhada, ouvimos piares,
- cantares -
Trocamos olhares, o medo é piada
No fim do mundo, num lugar incomum
Ou em qualquer indestinável local
Em outros limites, explorando novas fronteiras
Levamos nossos corpos pra lá estar

Quem nos entende?
- Nada nos prende -
Quem compreende?
- Te surpreende? –

Acho que a Lua e as estrelas, que nos veem, se aproximam
Acho que o Sol que nos marca, se estende enquanto estamos à rede
Acho que a Mata, ao nos rir, também quer se sentar com a gente
Nos vir ouvir
Como a ouvimos, num contato nem tão próximo, mas o mais perto possível.

Não tem mau tempo
Porque não há tempo
- não o contamos ou calculamos –
As horas passam... os dias correm...
- infelizmente felizmente -
E como chamá-lo de mau?
Ele é o que é
Assim como, com ele, podemos nos tornar o que nos tornamos
E ser o que somos


À meia luz
Uma parte nos ilumina
A outra não se adivinha
É o mistério, é a surpresa
É uma fogueira
Em meio a chuva
Gostamos assim...

Se virar tempestade, a gente canta mais alto,
Mais alto ainda, dançamos
Se virar calmaria,
Descansamos à brisa
Secamos as roupas,
Recontamos histórias, causos, cordéis, contos, casos, encontros, descasos...
Guardamos lembranças.

Fogo e chuva não se enxuga
Não se ensina, não se encolhe, não se escolhe
Chuva e fogo, temos sempre novo e de novo
O que se vê, se acredita, e se é.
- ao toque de fogo molhando 
ao som de chuva estalando -




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